Falta acompanhamento de penas em 98,5% das cidades de Minas

Falta acompanhamento de penas em 98,5% das cidades de Minas
Central que monitora condenado está em 13 cidades mineiras; com modelo, custo e reincidência caem

PUBLICADO por Joana Suarez, em 26/05/15
 

Toda quinta-feira, das 19h às 21h, Wagner*, 34, era obrigado a participar de um grupo de reflexão sobre drogas. Ele foi pego pela polícia fumando maconha em um campo de futebol no Tirol, na região do Barreiro. Ao cumprir a medida determinada pela Justiça durante três meses, ele custou cerca de R$ 40 aos cofres públicos. Se tivesse sido preso, custaria quase 50 vezes esse valor (R$ 2.000) e seria mais um no sistema que já tem um déficit de 26 mil vagas. Entre os fatores fundamentais para o sucesso dessa medida está a Central de Acompanhamento de Penas e Medidas Alternativas (Ceapa). O problema é que ela está presente em apenas 1,5% das cidades mineiras – são 13 núcleos diante dos 853 municípios do Estado.

A pena alternativa é um direito dos presos que cometerem crimes sem violência, com detenção de até quatro anos. Entre as ações estão prestação de serviços à comunidade, participação em projetos temáticos e pagamento de multas. Mas quando se trata de um reincidente no mesmo delito, ele é encaminhado ao sistema prisional, custando mais caro, enchendo ainda mais as já lotadas unidades e diminuindo as chances de ressocialização.

Prevenção. Para aumentar o alcance das Ceapas, é preciso investimento. Consideradas uma medida de prevenção – já que com elas a reincidência é menor –, as centrais receberam R$ 4,7 milhões no ano passado. No sistema prisional, por sua vez, foram gastos R$ 529,8 milhões.

E os investimentos são inversamente proporcionais à reincidência no crime. Segundo pesquisa encomendada pela própria Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), entre os usuários da Ceapa, a taxa de reincidência é de 19%, enquanto no sistema prisional, de maneira geral, é em torno de 80%.

“Na maioria das vezes, o sujeito cumpre a pena alternativa, mas o acompanhamento é absolutamente falho. A gente não consegue melhorar a condição dele, e a tendência é que ele pratique um novo crime”, destacou o juiz da Vara de Execuções Penais de Governador Valadares, Thiago Colnago.

Nessa lógica, além dos novos criminosos, as prisões recebem de volta a todo momento, em um círculo sem fim, os velhos bandidos. De acordo com Thiago Colnago, ainda que o Estado tivesse condições de investir milhões todo mês em prisões, jamais haveria vagas suficientes. “Nunca conseguiríamos atender todos”.

Responsável. Quando o município possui a Ceapa, o usuário é encaminhado a uma instituição parceira para cumprir pena – ele é monitorado durante o processo. “Onde não existe a central, significa que tudo isso fica a cargo do fórum, o que é improdutivo. O juiz não tem condições de organizar empresas para receber o sentenciado, e a gente se vale do que tem disponível na cidade”, destacou o magistrado.

Colnago foi juiz em Malacacheta, município da região do Vale do Mucuri, onde as escolas recebiam o usuário para a prestação de serviços, e o diretor avisava se ele estava indo. “A pena alternativa é muito interessante no sentido de evitar o encarceramento, mas, sem estrutura, ela perde a finalidade. A falta de centrais é uma das grandes dificuldades que temos para operacionalizar o que está na lei”.

O que virá
Estado.
A Seds informou que está em diálogo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) para obter recursos para três novas Ceapas: mais uma na capital e duas em municípios ainda não divulgados. Não há previsão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: O Tempo