A cada hora, 14 mulheres sofrem violência doméstica

7 de março de 2017
Jornal O Tempo
Publicado por O Tempo, em 07/03/17

Nas vésperas do Dia Internacional da Mulher, dados de 2016 da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas (Sesp-MG) revelam que, a cada hora, 14 mulheres sofreram violência doméstica no Estado. Na análise regional, o Triângulo Mineiro se destaca tanto positiva quanto negativamente. Enquanto a microrregião de Uberaba teve a taxa mais alta de Minas, a microrregião da vizinha Uberlândia apresentou os índices mais baixos.

A área de segurança de Uberaba, chamada também de Triângulo do Sul, apresentou uma taxa de 796 casos para cada 100 mil habitantes – número bem acima da média do Estado, de 600. Já na área de segurança de Uberlândia, conhecida como Triângulo do Norte, o índice foi de 445.

A gerente do Centro de Referência da Mulher de Uberaba, Juciara Moura, explica o que poderia justificar o fato de regiões tão próximas terem números tão diferentes. Para ela, o perfil mais agrário da região de Uberaba pode ter influenciado. Municípios que compõem a região contam com áreas de grandes lavouras, como as plantações de cana-de-açúcar para usinas de álcool, que precisam de trabalhadores homens de outras regiões para a colheita.

“Esses homens chegam à região e logo se relacionam com as mulheres daqui. Alguns deles mantêm outras famílias no local de onde saíram. Esse relacionamento novo e muito instável acaba gerando um número maior de casos de violência”, afirmou Juciara.

Capital. No total, Minas registrou no ano passado 126.710 ocorrências de violência doméstica, 2% menos que em 2015, quando foram 129.391. Em Belo Horizonte, a queda foi ainda mais tímida: os casos de violência doméstica caíram de 15.224, em 2015, para 14.960, em 2016, uma redução de 1,74%.

A coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG, Marlise Matos, afirma que ainda é cedo para a redução. “Houve uma queda ainda tímida. Precisamos acompanhar os próximos levantamentos para saber se há de fato uma tendência de redução desses casos de violência ou se é apenas uma variação sazonal. Mas não deixa de ser um bom sinal”, analisou. Marlise destaca ainda que, como a variação foi pequena, é muito cedo para falar que alguma política pública pode ter influenciado no resultado.

Transparência

Dado. Apesar da redução tímida, a coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG, Marlise Matos, comemora que hoje há pelo menos transparência na divulgação das ocorrências.

Saiba mais

Homicídios. Os assassinatos de mulheres caíram de forma mais significativa que a violência doméstica em geral em Minas. A redução foi de 16,2%, passando de 590 ocorrências, em 2015, para 494, em 2016. Já em Belo Horizonte, foram 75 em 2015 contra 47 no ano passado, queda de 37%.

Mais comuns. A violência física é a mais comum em Minas – foram 59.188 ocorrências em 2016. Em seguida aparece a violência psicológica, com 53.696.

Prisão. Sete homens foram presos nessa segunda-feira (6) na capital pela operação Ártemis (deusa grega),
em ação pelo Dia Internacional da Mulher.

Os mandados foram expedidos com base na Lei Maria da Penha. Alguns suspeitos tiveram o mandado cumprido por desrespeito de medida protetiva e outros porque representam perigo à vida da vítima.

Perfil

Companheiro e ex são responsáveis por 69% dos abusos

Dados divulgados pela Secretaria de Estado de Segurança Pública revelam ainda que 72% das mulheres vítimas de violência doméstica no ano passado não tinham o ensino médio completo e que os companheiros ou ex-companheiros delas são responsáveis por 69% dos casos de violência.

Segundo a coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG, Marlise Matos, a participação de maridos e cônjuges nos atos violentos é uma tendência que se repete em todas as estatísticas de violência contra a mulher. Já com relação à escolaridade das vítimas, Marlise acredita que pode haver uma subnotificação dos casos de mulheres que tenham um nível maior de estudo.

“O nível de escolaridade acaba refletindo também na renda. E essas mulheres com mais tempo de estudo muitas vezes não fazem ocorrência, pois buscam amparo em outros lugares. Essa mulher tem uma independência maior para pôr fim ao relacionamento ou buscar proteção e amparo na família, ou no terapeuta”, explica.

Marlise destaca que ainda há gargalos com relação a políticas públicas para reduzir os índices de violência contra a mulher. “A rede que envolve a proteção da mulher envolve a assistência social, a segurança pública e a saúde. Mas esses órgão atuam de forma independente, sem conversar, sem pensar uma política conjunta”, finalizou. (BM)

Tipificação

Entenda. A violência doméstica é caracterizada quando ela ocorre no ambiente familiar. Ou seja, entre indivíduos unidos por algum grau de parentesco, como o marido ou o pai.

Fonte: O Tempo